«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Guiné na Corson!


Car@s amig@s
Parti para Canchungo, Guiné-Bissau e este espaço ficará em pausa, porque deixarei de ter acesso à Internet. A vossa compreensão...
De quando em quando – muito raramente! – poderei espreitar ao endereço email e estarei sempre contactável neste número: 00 245 6726963

Projecto Andorinha


Projecto Andorinha
Promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa – um intercâmbio de escolas portuguesas e escolas no sector de Canchungo, Região de Cacheu, Guiné-Bissau


 Introdução

Na Região de Cacheu, constituída por seis sectores administrativos, habitam diversas etnias (Felupes, Mancanhas, Papéis, Balantas e outros) e, sobretudo a sul do rio Cacheu, vive uma maioria de povo Manjaco e são comummente Animistas, com uma minoria significativa de Católicos e uma pequena minoria de Muculmanos. Os manjacos são um povo emigrante, escolhendo essencialmente destinos próximos como Senegal e Gâmbia e, em alternativa, têm uma significativa presença em Portugal, Espanha e França. Como emigrantes mantêm uma forte ligação com a sua região e respectivas tabanka (aldeias), sendo importantíssimo as remessas das economias para as suas famílias – similar a grande parte das regiões do interior de Portugal!

Pretende-se com este projecto construir uma rota de solidariedade e intercâmbio entre Portugal e Europa e a Região de Cacheu na Guiné-Bissau – dar e receber –, feita de pequenos mas significativos gestos e acções que melhorem o dia-a-dia e bem-estar das populações envolvidas.

Andorinha porque se trata de uma ave migratória, existe cá e lá, e pretende simbolizar o carácter migrante dos portugueses e guineenses e a rota de solidariedade e intercâmbio que se pretende montar, entre cá e lá.

Andorinha é também um programa na Rádio Comunitária Uler A Baand em Canchungo para a Região de Cacheu e que irá noticiar e promover este projecto.


 Um projecto em construção…

A montagem de um projecto bilateral de troca de experiências e intercâmbio entre um estabelecimento de ensino de Portugal e de um congénere na Região de Cacheu (Guiné-Bissau) poderá proporcionar múltiplas vantagens recíprocas – e despoletar diversas acções de cooperação. Com efeito, a troca de correspondência escolar entre directores, professores e alunos, certamente aumentará o domínio da escrita em Língua Portuguesa entre os guineenses e promoverá o conhecimento sobre a Guiné-Bissau entre os portugueses.

É um projecto em construção porque a partir de uma acção simples, se pretende construir outras acções, dependendo da iniciativa dos actores envolvidos, da comunidade à direcção da escola, dos professores aos alunos.

É um projecto em construção porque poderão entrar mais escolas do lado de Portugal porque a partir da Região de Cacheu há mais escolas interessadas em poderem participar...


 Escolas envolvidas

As escolas envolvidas, em Portugal e na Guiné-Bissau, até ao momento, são as seguintes:

Escola E. B. 2 / 3 do Marão - EBE de Djita
Agrupamento de Escolas de Mondim de Bastos - EBU de Cabienque
Agrupamento de Escolas de Armação de Pêra - EBE “Prof. Martinho Gomes” de Pelundo
Agrupamento de Escolas de Vila Caíz - EBU “Tomás Nanhungue” de Tame
Escola E. B. 2,3 Dr. Joaquim Magalhães em Faro - Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Canchungo V


«Existe também uma mercearia de portugueses, do senhor Orlando – que ainda não tive a oportunidade de conhecer. É quase sempre a filha que está atrás do balcão, nascida na Guiné-Bissau, ou o marido, também português e aqui nascido. São ambos muito simpáticos e é a quem tenho recorrido para pedir informações conselhos, solidariedades – neste momento é ele que leva estas cartas para serem expedidas pelos Correios em Bissau.
Acontece também ser interpelado na rua nas lojas no mercado, sobretudo por homens mais velhos, perguntando-me se sou português, para me revelarem a sua ligação a portugueses e para poderem falar com orgulho o seu melhor português! Foi o caso de um ex-combatente do exército português, de um ex-cozinheiro de uma família portuguesa, de um muçulmano ex-tratador de gado de um agricultor português.

Já me habituei a que alguns miúdos corram para mim a gritar “branco pelelé”! Neste contexto, a minha cor de pele, branca, dá nas vistas, e nem preciso de ter um nome, sou simplesmente o branco! Aproveito sempre para lhes ensinar o meu nome e agora alguns já correm a gritar “António”!» [26.10.2006]

Canchungo IV


«Também é difícil encontrar palavras para expressar descrever como é o calor! Sempre se ouve dizer que o nosso corpo é constituído maioritariamente por água mas nos primeiros dias cheguei a assustar-me por o meu corpo se esvair em água suor! Por mais que beba água fico sempre com a sensação que durante o dia sai muita mais água do corpo do que entra! Temo uma desidratação!
Como explicar: não é aquele calor que queima ou que só é quente quando se está ao sol; não, é um calor que está sempre presente, em todo o lado, em qualquer situação, de manhã à noite, mesmo quando se dorme! Qualquer gesto que se faça ou mesmo que se esteja imóvel, está-se a suar! Ter a t-shirt ensopada e até mesmo a perna das calças, suar da testa em bica, sentir os pêlos dos braços encharcados, passou a ser o mais normal do dia-a-dia!

Tive a oportunidade de utilizar os transportes públicos e colectivos locais - as denominadas candongas.
Existem três modalidades. As seteplace, que são aquelas carrinhas tipo van de cinco lugares, a cujo espaço de bagageira foi acrescentado outro banco para haver mais lugares – são as de tarifa mais cara, mais rápidos, (dizem) mais confortáveis e mais raras. Depois existem carrinhas fechadas, que vão das Hiace a outras maiores. Por fim, as carrinhas de caixa aberta, cobertas por um tolde e abertas dos lados – são as mais baratas e as mais vulgares abundantes; na época das chuvas ou do verão com a poeira, são as mais desconfortáveis.
Comum a todas estas modalidades é o aproveitamento do espaço de modo a conseguirem ter o máximo de lugares sentados, o que é conseguido pela utilização de bancos corridos. Todos estes transportes só partem quando todos os lugares forem ocupados, ou seja, quando encheu completamente, e isto significa irmos todos ombro a ombro bem aconchegados. O que se revela um modo de viajar confortável, adequado e adaptado a estes percursos acidentados de buracos e sacudidelas, porque nos amparamos uns aos outros. Misturam-se homens e mulheres, jovens e adolescentes, crianças e bebés, algumas mercadorias e animais (já viajei com galinhas e cabritos), e gera-se um bom convívio – há pessoas que se apresentam e metem conversa comigo com natural e espontânea simpatia.» [26.10.2006]

Canchungo III


«O que as palavras não conseguem pintar é o colorido das pessoas, resultante de uma mistura de etnias, com os respectivos modos de ser e de estar. Canchungo, assim como a Região de Cacheu, a que pertence, é de maioria manjaco – caracterizam-se por serem os mais escuros dos negros. Mas, tal como acontece por toda a Guiné-Bissau, em Canchungo e Cacheu misturam-se as mais diversas etnias, das muitas que constituem a Guiné-Bissau e regiões de países limítrofes, numa tolerância e convivência louvável – sobretudo se pensarmos ao quanto esta falta de tolerância e sã convivência tem provocado guerras e genocídios em países próximos e, não esquecer, na Europa Central. É o respectivo modo de trajar diferente que provoca este colorido pelas ruas e mercados.
O mesmo se passa em relação à religião, que se mistura e convive por todo o lado. Os manjacos repartem-se por serem animistas ou muçulmanos, existindo igualmente uma minoria cristã – que se distribuem por serem católicos, adventistas, evangélicos. É assim que na Avenida fica a igreja católica e na rua atrás de nossa residência fica a mesquita – cinco vezes por dia, a iniciar-se às cinco da manhã, ouvimos o imã cantar a oração; quando chegamos à Guiné-Bissau, teve início o Ramadão, em que durante a luz do dia têm de jejuar, e agora passado um mês está a terminar. Todas as outras igrejas presentes têm o seu espaço de culto e oração, e respectivos pastores e actividades.

Enquanto as aulas não começam e para minha integração ambientação, realizamos visitas às Escolas e respectivas tabankas, onde irá decorrer o nosso trabalho para este ano lectivo. Foi assim que já tive o primeiro impacto visual com Calequisse, Pelundo (onde curiosamente um dos edifícios sala da escola ocupa uma antiga igreja portuguesa porque deixou de ter o respectivo padre), Cabienque, Tame, Canhobe e Caió. Em todas as visitas fomos acompanhados por um elemento da associação que federa as associações da Região, que são o nosso principal parceiro local de projecto, e por alguns dos directores de Escola. Em todas as aldeias registei muita curiosidade no olhar das gentes.» [26.10.2006]

Canchungo II


«Parte da Avenida é um mercado todos os dias, incluindo os domingos, desde a manhã até escurecer. Existem pequenos stands de venda e em algumas casas há pequenas mercearias. Há de tudo um pouco em oferta e alguns stands ou lojas são um pouco mais especializados, como os que vendem chinelos e outro calçado leve, ou malas de viagem, ou uma grande variedade de artigos de plástico, ou redes de pesca, ou fechaduras de porta. Continuo a sentir aquele sentido de comércio: cada um tem um pouco de qualquer coisa, um pouco de amendoim, algumas beringelas, que trás e expõem, por vezes apenas no chão do que resta dos passeios, e vende.
Na primeira ida às compras, entrei numa mercearia e é o suficiente para perceber que não entendem o português. Como não sei o crioulo, procuro outras formas de me fazer entender. O homem fica pouco à vontade mas lá nos entendemos. E no final, depois de pagar, tem o gesto de ir buscar dois rebuçados que oferece com um largo sorriso! – fica na memória.

Foi logo nos primeiros dias que descobri dois recantos encantadores desta terra: o rio e as bolanhas.
Chega até aqui um braço do rio Mansoa e a sua visão descoberta é deslumbrante! Neste local forma um extenso lençol de água e custa a crer que a maré possa descer e que ficará praticamente sem água, assim como custa a crer que tão longe do mar não seja água doce mas salgada, porque o denominado rio Mansoa é um braço de mar, com as respectivas marés! Neste local forma uma curva e na outra margem oposta há um massivo de árvores baixas ou arbustos com raízes aéreas.
Um grupo de homens remendava as redes. Outros passavam remando na ré de longas pirogas; são de uma peça única, massiva, escavadas num tronco de árvore; elegantes e belíssimas. Começo a notar que há classes sociais ou profissionais bem definidas: estes são os pescadores e têm uma pose, um modo de estar, de trajar.
Nesta margem, há mulheres e crianças a britarem o cascalho. Tenho a sensação que tudo serve para ser transformado, para ser vendido, e para se tentar um parco rendimento monetário.
Do outro lado da povoação, chega-se às bolanhas, os campos alagados de arroz. O vale confere largueza ao olhar, a simetria das divisões ganham várias tonalidades de verde e ao entardecer a luminosidade confere outras policromias – há noite é como um fogo-de-artifício de pequenas luzinhas verdes esvoaçantes: são dezenas e dezenas de pirilampos!

Na mesma Avenida é a entrada para o Mercado local. No interior encontram-se dezenas de pequenas bancas, tudo acanhado, como se fosse em miniatura. Um ambiente mágico – como acho que é inerente a todos os mercados por esse mundo fora.
Representa novamente muita gente a vender. Sempre pequenas quantidades, que dispõem apresentam em pequenos montículos (três cebolas, duas cenouras, um punhado de grãos de feijão, um naco de abóbora cortada, quatro bananas-maçã, etc) porque é assim que se fazem os preços - e não ao peso. Decerto porque todas as pessoas só poderão comprar em pequenas quantidades. Todos os dias a oferta pode apresentar algumas novidades – e por isso me encanta “ter” que ir quase todos os dias ao Mercado para fazer compras!
Como se depreende, a oferta de legumes de base é boa – não aparece a alface ou a couve, podendo ser substituídas pelas folhas de mandioca ou da batata doce, mas ainda não aprendi a prepará-las. A fruta é sazonal e irá começar a do maracujá e goiaba, e ainda teremos de esperar pela da papaia e manga. A oferta de peixe é generosa, diversificada e fresca. Quanto a carne comecei pela de gazela – o que me parece um luxo! Já descobri um mercado de gado bovino e outro de suínos e caprinos, e localizei a existência de um talho no Mercado.
De seis em seis dias, o mercado da Avenida transforma-se na chamada Feira Grande. O que significa que as gentes das tabankas (aldeias) em redor vêm vender e comprar. Há mais gente, maior oferta e, por conseguinte, mais cor e ambiente mágico. Começo a descobrir o artesanato local, como os potes de barro riscado para a água, as cestas largas, as esteiras, os bancos de madeira talhados, as panelas feitas de lata amassada (em reciclagem), os panos de coloridos padrões. E as técnicas de oferta e venda também se sofisticam, sobretudo pela mobilidade: desde os miúdos que aproveitam uma caixa de papelão para colocarem um fita e andarem com o seu conteúdo a tiracolo, a carrinhos de mão que se empurram cheios de produtos, ao mais elaborado e sofisticado de todos: não conseguem imaginar a quantidade de roupa que se consegue equilibrar numa bicicleta em estendal e o rapaz montado ainda consegue pedalar devagar por todo o lado! – um feito digno de figurar como número de equilibrismo em qualquer circo e pelo quantidade de roupa transportada em mostruário numa só bicicleta, digno também de figurar no Guiness Book!» [26.10.2006]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Centro de Desenvolvimento Educativo


Na cidade de Canchungo (Região de Cacheu), surgiu a necessidade, por ausência de estrutura disponível, de se implementar um Centro de Desenvolvimento Educativo em parceria com a comunidade local. Com efeito, professores, directores de escolas, formadores, bibliotecários e associações, têm manifestado a necessidade de se criar um espaço para pesquisa e leitura de forma a colmatar as carências identificadas, tendo em conta que o acesso a material de leitura e consulta técnica nos diversos domínios é extremamente limitado, sendo a publicação e importação de livros praticamente inexistente. De realçar a importância e a potencialidade deste centro na dinamização de diversas actividades de animação sócio culturais direccionadas para os diferentes grupos da comunidade, gerando por si actividades formativas potenciadoras de enriquecimento pessoal e profissional das comunidades onde estão inseridos.

Este CDE a ser instalado em Canchungo teria como objectivos específicos:
• Criar um espaço apetrechado com materiais de leitura e consulta aberto aos diferentes agentes educativos e á comunidade em que está inserido;
• Instalar um centro de recursos destinado especificamente à autoformação de professores, directores, formadores e educadores, contendo bibliografia e materiais para este fim;
• Instalar uma sala apetrechada com computadores que possibilite não só a utilização pelos agentes educativos, mas também que possibilite a realização de cursos de informática abertos à comunidade;
• Promover actividades de animação sócio-culturais de carácter formativo;
• Servir de estrutura de apoio às diferentes associações e ong’s locais assim como outras estruturas ligadas à educação.

Para a concretização deste objectivo iniciou-se em 2004 um processo de discussão/análise com a colaboração de diversos representantes da sociedade civil e instituições de Canchungo. Deste grupo de trabalho surgiu como potencial localização a Escola 1 de Junho (antiga estrutura apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1966) situada estrategicamente no centro da cidade como o espaço ideal para a criação de um Centro de Desenvolvimento Educativo.
De reuniões tidas com o Ministério da Educação Nacional surgiu a disponibilização, por parte deste, de ceder o espaço para ser reabilitado e posteriormente utilizado. Foi realizado um orçamento de reabilitação/apetrechamento deste espaço e iniciaram-se diversos processos de angariação de fundos, no entanto os montantes necessários para a sua reabilitação, devido ao avançado estado de degradação física, revelaram-se bastante elevados o que de certa forma tem contribuído para a falta de avanços obtidos no prossecução dos objectivos.

Como alternativa para a implementação do CDE foi analisado ao longo de 2007 a possibilidade de se optar por uma construção de raiz o que permite não só pensar o espaço á medida do que seria mais indicado, como também resultaria num orçamento menor aumentando também as possibilidades de obter financiamento para a sua construção. Foi apresentada esta necessidade ao Comité de Estado de Canchungo que mostrou disponibilidade em colaborar nomeadamente através da cedência de um terreno para a realização da obra, paralelamente foi realizado um projecto e o respectivo orçamento da obra, o que permite podermos estabelecer um ponto de situação relativamente aos apoios concedidos até ao momento para a implementação deste projecto.
Ficou acordado entre os parceiros que a gestão do processo de construção será feita por um comité de gestão constituído por um representante do Comité de Estado, um representante da Action Aid, um representante da Direcção Regional de Educação (DRE) de Canchungo, um representante da Fundação Evangelização e Culturas (FEC) e um representante da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu. Entretanto, foi decido abrir o CDE num espaço provisório, com o principal objectivo de se dar os primeiros passos que possam consolidar esta iniciativa.

O CDE provisório foi aberto a 1 de Setembro de 2008 e atribuída a sua gestão à CONGAI – com o apoio financeiro por seis meses da Action Aid, permitindo cobrir as despesas do seu arranque. O espaço tem uma localização central na cidade de Canchungo, sobretudo próximo de diversos estabelecimentos de ensino, com uma sala de biblioteca – equipada com fotocopiadora, vídeo e televisor – e uma pequena sala de informática com seis computadores disponíveis – mais um para uso da bibliotecária.
A bibliotecária foi colocada pela Direcção Regional de Educação de Cacheu e neste momento tem o estatuto de professora contratada. Embora possua formação de bibliotecária no âmbito de projectos apoiados pela UNICEF na Guiné-Bissau, as suas competências cingiam-se à catalogação e classificação bibliográfica. De imediato foi solicitado apoio ao professor Augusto da Silva, bibliotecário-formador do PAEIGB – Projecto de Apoio à Educação no Interior da Guiné-Bissau realizado pela FEC, para conceber e realizar uma formação complementar. Em conjunto com a bibliotecária, seleccionaram as seguintes áreas: perfil e funções do bibliotecário, planificação e divulgação de actividades, técnicas de animação, ligação à comunidade e escolas – duas sessões foram já realizadas. Complementarmente, foi pago à bibliotecária a frequência de um curso de iniciação à Informática no CENFA local – o que concluiu com êxito!

O CDE tem a sua aposta na complementaridade das suas valências e serviços prestados. A biblioteca conta com cerca de quatro centenas de títulos, essencialmente na área da Educação – com um generosa oferta de dicionários em Língua Portuguesa.
A aposta no horário à noite com electricidade, permitindo o único espaço de estudo à noite na cidade, e com abertura ao sábado, para permitir o seu uso por professores das tabankas em redor – como foi solicitado pelos próprios, aquando da visita dos 46 professores de Cabienque, Pelundo, Djita, Tame e Canhobe do projecto +Escola.
A sala de informática aquando da abertura era única na cidade. Entretanto, abriram mais três locais com computadores, onde apenas se pode aceder pagando o curso. Este espaço continua a ser o único aberto ao público para utilização – para treino e consolidação destes cursos!
A oferta do serviço de fotocopiadora, com descontos para alunos e professores, fez baixar o preço exorbitante praticado na cidade!

A avaliação de seis meses de funcionamento é globalmente positiva. Com efeito, regista-se uma frequência significativa, quer no período da manhã, por jovens estudantes de diferentes escolas locais – com t.p.c. de pesquisa –, quer no período da noite – também para uso de computadores ou da fotocopiadora. Esta frequência ganhou novo fôlego com o apoio da Cooperação Portuguesa de fazer chegar – através da FEC – diversas publicações da imprensa, quer revistas e jornais de Portugal, quer jornais da Guiné-Bissau.
Neste momento, ainda não se atingiu uma sustentabilidade financeira, mas pelo menos está atingir uma receita em termos de comparticipação significativa. Sobretudo é importante que o objectivo da auto-sustentabilidade financeira esteja consolidado entre os parceiros que sustentam este projecto – bem como na própria bibliotecária no desempenho das suas funções. Há a consciência de que este objectivo poderá ser atingido a médio prazo, com a tendência de aumento de utentes, e sobretudo nas condições de oferta que se projectam para o espaço definitivo, nomeadamente com o acesso a Internet – pelo que é um objectivo prioritário e urgente a sua construção.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Presença portuguesa na Guiné


Todavia, sem prejuízo do nosso sentido de rigor, Ribeiro (1989) divide a história da presença portuguesa na Guiné em três períodos:
1 – do séc. XV à c.1850, período durante o qual os portugueses podem ser considerados como “emigrantes” estrangeiros que tinham como principal actividade o negócio, para o qual pagavam aos reinos locais tributos e outras taxas tais como, por exemplo, a taxa de residência;
2 – o segundo período, de 1850 a 1900-1915, é caracterizado pela coabitação de dois espaços de jurisdição, o que não obsta à observância de tributos aos poderes dos territórios de acolhimento:
- a praça (centro comercial) e o presídio (zona residencial) do lado europeu (português e, mais tarde, holandês, inglês, alemão e italiano), geralmente junto dos rios;
- a cité africana.
O apogeu desta submissão europeia aos reinos locais conduz, com o concurso da famosa cláusula única do Tratado de Berlim sobre a ocupação efectiva da parcela recebida, às campanhas ditas de pacificação empreendidas pelos portugueses.
3 – o terceiro e último período, que aliás corresponde de facto à dominação colonial, começa por volta de 1920, imediatamente depois da “campanha de pacificação”, e prolonga-se até à proclamação da independência.
Após esta breve resenha histórica, na qual muitos povos e situações não foram mencionados, é possível dar-se conta que a origem geográfica dos povos da Guiné de então ultrapassa de muito longe as suas fronteiras actuais [...]
[“Contribuição para o Debate sobre Identidade e Cidadania na Guiné-Bissau” Ibrahima Diallo, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 8, Julho 2004, p. 85-96]

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Canchungo I


«Entramos em Canchungo. Acho que já me habituei a esta imagem de destruição e, talvez por isso, comparativamente, me parece a localidade mais agradável de todas as que fui conhecendo.
Há uma rotunda, que distribui o traçado das outras ruas; o piso é de terra batida e ainda não tendo terminado a época das chuvas, há inúmeras covas cheias de água barrenta. A nossa rua é uma avenida, larga, a terra batida e os respectivos charcos de água da chuva, com passeio a meio e uma dúzia de postes de iluminação … que há muitos anos se quedam inúteis sem electricidade – não há qualquer distribuição de electricidade pública, em qualquer das outras chamadas cidades, incluindo Bissau; todas as casas que têm o luxo de terem electricidade à noite, é porque possuem um gerador que funciona a diesel e faz um matraquear característico por aqui à noite!
Salta à vista sempre aquele ambiente de muita gente nas ruas, por todo o lado, homens e mulheres, e sobretudo muitos jovens e crianças.

Parte da Avenida é um mercado todos os dias, incluindo os domingos, desde a manhã até escurecer. Existem pequenos stands de venda e em algumas casas há pequenas mercearias. Há de tudo um pouco em oferta e alguns stands ou lojas são um pouco mais especializados, como os que vendem chinelos e outro calçado leve, ou malas de viagem, ou uma grande variedade de artigos de plástico, ou redes de pesca, ou fechaduras de porta. Continuo a sentir aquele sentido de comércio: cada um tem um pouco de qualquer coisa, um pouco de amendoim, algumas beringelas, que trás e expõem, por vezes apenas no chão do que resta dos passeios, e vende.
Na primeira ida às compras, entrei numa mercearia e é o suficiente para perceber que não entendem o português. Como não sei o crioulo, procuro outras formas de me fazer entender. O homem fica pouco à vontade mas lá nos entendemos. E no final, depois de pagar, tem o gesto de ir buscar dois rebuçados que oferece com um largo sorriso! – fica na memória.» [26.10.2006]

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bankada Andorinha III





Em Janeiro de 2009, sobretudo com o início do ano lectivo liceal em Bissau, algumas bankadas sofreram algumas ausências de elementos, que afectaram o seu funcionamento regular. No entanto, na sequência de uma campanha de sensibilização e promoção da Língua Portuguesa junto a algumas escolas da cidade – destacando-se a receptividade encontrada no Liceu Regional Hô Chi Minh –, realizado por elementos das bankadas Andorinha, e a organização da actividade “Nô Pensa Cabral!” a 20 de Janeiro, fez despoletar a fundação de novas bankadas:

 Bankada Andorinha Tchada 1 – Diunisius A.C.T.S. Barbosa (Presidente), Sebastião F. Quadé (Vice-Presidente), Marina Isabel Mancal (Secretária), Beto João Pula (Vice-Secretário), Zaira J. Pereira (Porta-Voz), Suzete D. Sanca (Disciplina), Wad Monteiro (Tesoureiro), Eunice Barbosa (Vice-Tesoureira), Jorge Cabral (Desporto).
 Bankada Andorinha Tchada 2 – Júlio Tomás Mambinaul (Presidente), Ludicimira Fernando Mendes (Secretária), Irina Vasco André (Vice-Secretária), Elisabete Mendes Barbosa (Financeira), Chinfon Djatá (Porta-Voz), Artumicio Nunes Té (Chefe de Disciplina).
 Bankada Andorinha de Tame – Braima Mendes (Presidente), Suzete A. Tomas (Vice-Presidente), Ailton F. Mendonça (Vice-Presidente), Bernardo Gomes (Animador), Joseph Gomes (Secrtário), Ispinula Bok Laurencio (Vice-Secretária), Fatumata Binta Bá (Porta-Voz), Mauricio D. Upa (Vice-Porta-Voz), Queba Coté (Tesoureiro), Antonieta I. Gomes (Vice-Tesoureira), Graciana Tomas Mendes (representante dos alunos e as alunas).
 Bankada Andorinha “Filhos do Campo” – Armando Sampa (Conselheiro), Fernando Djeme (Presidente), Juse Carlos Sanha (Vice-Presidente), Agostinho Nhaga (Secretário), Audilia Lopes Correia (Vice-Secretária), Julio Lima (Financeiro), Luis Carlos Fanda (Adjunto-Financeiro), Julio da Costa (Responsável Disporto e Cultura), Faustino Camilo Gomes (Respnsável de Disciplina), Ermelinda Mendonça (A mãe da Bancada), Quintino Agostinho Ponta (Porta-Voz), Admir Baticã Ferreira (Responsável Relações-Exteriores).
 Bankada Andorinha de Bairo di Irmondade – Lourenço Mendes (Presidente), Mário Silva (Vice-Presidente), Carla Pereira (Secretária), Justino Afonso Vaz (Vice-Secretário), Clemente da Costa (Financeiro), Donilson João Pereira (Chefe de Informação).
 Bankada Andorinha de Rua de Calquisse – Fernando da Silva (Presidente), Julio Gomes (Vice-Presidente), Ambrosio Mendes (Secretário), Vensam Mendes (Vice-Secretário), Adelino Mendes (Tezoreiro), Julio Mendes (Porta-Voz), Rofino Mendes (Vice-Porta-Voz), Herculano Mendes (Financeiro), Joaquim Mendes (Conselheiro).

Neste momento, estamos a realizar uma ronda de visitas para encorajar e consolidar estes processos em cada local. Assim, a 1 de Fevereiro visitamos a bankada Andorinha de Tchada 1, a 22 de Março a bankada Andorinha de Bairo di Irmondade, a 29 de Março a bankada Andorinha de Tchada 2 – e estão agendadas para 19 de Abril a visita à bankada Andorinha “Filhos do Campo” e a 26 de Abril a visita à bankada Andorinha de rua de Calquisse.
As reuniões da bankada central Andorinha mantêm-se com a periodicidade mensal no Centro de Desenvolvimento Educativo e resultam sobretudo para apoiar actividades complementares, como o visionamento de vídeos em Língua Portuguesa e o correcção de exercícios em Língua Portuguesa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

País Natal


Um sentimento de amor pátrio sobe no meu coração,
Em espírito demando o meu pais natal,
E lembro aquela floresta africana,
Cheia de caça e de verdura;
Lembro as suas imensas árvores gigantes,
A folhagem verde ou amarela
Que nos perfuma.
Revejo a minha infância,
Toda cheia de alegrias:
Eu corria pelo mato,
Espiava os animais selvagens,
Sem medo;
E olhava os lavradores nos campos,
E, no mar, os pescadores,
Que lutavam contra o vento, para agarrar o peixe,
E que eu, atento, seguia com o olhar:
Como gostava de os ver no oceano
Domar as vagas, que lhes queriam virar as barcas!
(Ah!, bem me lembro, bem me lembro do meu pais natal!

António Baticã Ferreira (Canchungo, Cacheu, Guiné-Bissau, 25/12/1939)
Poeta, colaborador em várias publicações, médico.
in www.lusografias.com

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Diário XII


«Foi no dia 28 de Setembro que rumamos a Canchungo (antiga Teixeira Pinto), que pertence à região de Cacheu – o meu destino por um ano!
Já fora avisado que o estado da estrada era o pior e mesmo já tendo a experiência de outros percursos em mau estado, estava longe de imaginar que pudesse ser tão difícil: é o percurso de estrada mais maltratado e penoso, quer em extensão de péssimas condições quer pela natureza dos buracos covas charcos pequenos lagos. Há o que resta de um alcatrão muito sólido, o que produz buracos mais fundos; mais valia arrancar todo o alcatrão que resta e deixar a pista de terra batida; porque por vezes o melhor percurso é nas margens, aproveitando os dois rodados por terra. Resumindo e concluindo: é um suplício, sobretudo para quem vai sem conduzir.
A boa surpresa é as árvores que ladeiam a estrada quando se aproxima de Canchungo; ainda com a base pintada de branco, como algumas das encantadoras estradas antigas de Portugal - apesar dos buracos não amainarem.» [26.10.2006]